Este bolo foi a minha oferta surpresa a uma colega de trabalho que teve o seu último dia connosco na semana passada. Ela, a mais nova de todos, nós abraçou outro projecto profissional. Para pena de alguns, vamos ter muitas saudades dela. Existem pessoas que não nos esqueceremos e irão ficar sempre nossas amigas. Ela é uma delas.
Habitualmente vários colegas almoçamos no próprio local de trabalho as refeições que levamos de casa nas nossas lancheiras e marmitas. Com o enorme aforro económico e com as refeições preparadas por cada um, ainda mais com alguns com veia culinária como eu... lá vamos passando a nossa hora de almoço dizendo uns dispares e desabafando uns com os outros.
O bolo foi enorme (tabuleiro de 40 cm x 24 cm). Levei-o no tabuleiro e meia hora antes do almoço fui para a copa fazer a montagem. Alguns colegas que passavam deviam-me achar com ar de Marciano completamente absorvido a preparar a surpresa.
Fantástico foi a cara dela quando entrou, não queria acreditar. O almoço (das nossas lancheiras) foi fantástico e no final houve bolo para 20 e tal pessoas. Foi muito elogiado sobretudo porque parece chocolate e na realidade é farinha de alfarroba. As letras são de pasta de açúcar as quais tive de cortar com alguma paciência para saírem perfeitas.
A receita:
A África veio até ao Algarve...
Bolo de alfarroba, amêndoa e gila, decorado com tiras de mandioca.
Aproveitando o melhor dos ingredientes nacionais, com o toque sublime desse fruto pouco conhecido a alfarroba, proponho um bolo diferente. Com um sabor a descobrir e para encantar os seus convidados com uma espectacular decoração, mãos à obra!
Ingredientes: (para um bolo grande), para um bolo normal faça a receita com metade das quantidades.
- 10 ovos
- 500 gr. açúcar
- 165 gr. farinha de alfarroba (adquire-se em ervanárias ou nas secções de dietética dos hipermercados)
- 420 gr. de amêndoa moída (com pele)
- 420 gr. de doce de gila (dois frascos de 340 gr. tipo “Casa de Mateus”, inclui a quantidade para o bolo
e para a decoração)
- 3 colheres de sopa de canela
- 6,5 colheres de sopa bem cheias de margarina derretida
- 6,5 colheres de sopa bem cheias de farinha de trigo
- 2 colheres de sopa de fermento em pó
- 1 mandioca média para decoração
- mel a gosto
- fios de ovos para decoração (opcional), vendem-se frescos em pequenas embalagens de 100 ou 200 gr.
Preparação:
Com uma colher de pau, bater ligeiramente os ovos inteiros com o açúcar. Juntar a margarina derretida, as farinhas misturadas (farinha de trigo, farinha de alfarroba, a canela e o fermento em pó) e os restantes ingredientes (a amêndoa e a gila). Do doce (por exemplo de dois frascos de 340 gr.) reserve 1/2 frasco para finalizar na decoração. Envolva suavemente com a colher de pau. Se verificar que a massa está muito consistente, adicione um pouco de leite.
Vai a cozer em forma redonda sem buraco no meio ou em tabuleiro rectângular untados e forrados com papel vegetal. Tempo estimado de cozedura em forno médio 25 a 30 minutos. Picar com um palito até que não venha massa pegada.
Decoração:
Enquanto o bolo coze, descasque a mandioca (adquire-se facilmente nos hipermercados junto às frutas e legumes). Com um descascador de cenouras, faça ripas finas de mais ou menos 8 a 10 cm de comprimento. Frite umas quantas tiras de cada vez em óleo que não esteja muito quente para evitar que fiquem com cor acastanhada. A fritura é rápida e as tiras devem ser retiradas assim que adquiram a consistência de batata frita, com o cuidado de não as deixar ficar acastanhadas (o que dá um desagradável sabor a queimado). Reservar as tiras de mandioca em cima de papel absorvente. Num prato ou travessa dispor as tiras e depois de frias e cobri-las com um fino fio de mel, de forma a que fiquem todas bem impregnadas.
Montagem do bolo:
Depois de retirado do forno e já morno, espalhar com uma colher toda a superfície do bolo com o doce de gila que reservou. Vai dar um ar brilhante ao bolo com ligeiros fios de gila a revelarem-se. Disponha generosamente as tiras de mandioca com mel num pequeno monte a partir do centro do bolo. Se tiver, coloque algumas amêndoas com casca no topo à sua volta do bordo. Na travessa disponha pequenos montes de fios de ovos encostados às paredes do bolo. No bolo da foto não usei fios de ovos e coloquei tiras de mandicoca à volta.
Se optar por efectuar o bolo em tabuleiro grande rectangular, decore com uma ou duas alfarrobas secas (se as conseguir obter), algumas amêndoas com casca, e utilize as tiras de mandioca deitadas em cima do bolo dispostas em forma de xadrez, a fazer um entrançado.
Vai surpreender os seus convidados com a decoração do seu bolo. Vão pensar que se trata de chocolate, ouças as reacções e os elogios, só depois revele o seu ingrediente mistério!
Bon appetit! Fica húmido muito apetitoso.
Uma sugestão de apresentação para um bolo menor em forma redonda:
Curiosidades da alfarroba:
“Do fruto da alfarrobeira tudo pode ser aproveitado, embora a sua excelência esteja ainda ligada à semente donde é extraída a goma, constituída por hidratos de carbono complexos (galactomananos), que têm uma elevada qualidade como espessante, estabilizante, emulsionante e múltiplas utilizações na indústria alimentar, farmacêutica, têxtil e cosmética.
Mas a semente representa apenas 10% da vagem e o que resta - a polpa - tem sido essencialmente utilizado na alimentação animal quando, devido ao seu sabor e características químicas e dietéticas, bem pode ser mais aplicado em apetecíveis e saborosas preparações culinárias.”
A alfarroba é consumida como substituta do chocolate, com aparência idêntica e sabor mais suave. A alfarroba é uma vagem comestível, semelhante ao feijão, de cor castanha e sabor adocicado, que mede em torno de 10 a 20 cm. Dentro dessa vagem encontram-se de 10 a 16 sementes ou quilates. A semente da alfarrobeira foi, durante muito tempo, uma medida utilizada para pesar diamantes. A unidade quilate (carat) era o peso de uma semente de alfarroba. E uma das suas características únicas é o seu peso ser sempre igual! A alfarrobeira é nativa da costa mediterrânica e encontra-se presente em toda a região do Algarve, tal como as amendoeiras.